Falta pouco. Estás lá em baixo. No ritual do costume, os braços erguidos para o céu. O mesmo céu que momentos antes foi cortado pela águia que tens no peito. Tu e eu. No ritual do costume, aperto as mãos nervosamente. Enfim, começa… Sento-me. Tu corres. Corres por mim, pelos milhares que estão na Luz e pelos milhões que te vêem na televisão ou te seguem pela rádio. Um deles encaminha-se perigosamente para a nossa baliza. Tira, tira, tira! – penso eu. E tu tiras. Uma bola parece perdida. Corre, é tua, é tua! – digo eu. Tu corres. É mesmo tua. Por fim, marcamos. Festejas como um miúdo. Eu também. Mas a luta ainda não acabou. Cerras os dentes. Eu também. De súbito, levo as mãos à cabeça. Eis que um deles parece disparar isolado. Parece… Num instante estás lá. E a bola, sem se saber bem como, já está colada ao teu pé. Cabeça levantada, rasgas o meio-campo. Tiro as mãos da cabeça, já passou. O final está perto, a vantagem é magra. Olhas para a bancada e pedes apoio. Cá em cima, faço o que posso. Eu e todos à minha volta. É canto a nosso favor. Lá vais tu. A bola está no ar. Salta um molho de jogadores e distingo a tua cabeleira. A bola já está no fundo da rede. A Luz explode. E tu, lá em baixo, de joelhos, outra vez os braços erguidos para o céu. Mas eu agora já não aperto as mãos. Não há que ter nervos. Está arrumado. Ouve-se o último apito. Lá em baixo há abraços. Cá em cima também. Olhas de novo para a bancada. Sorris. Eu também. Sorrimos todos. Sabes que estás no meio dos teus. Eu também. Sabemos todos.
Fica, David! Por ti. Por mim. Por nós.
Pelo Benfica.